Em 1 de janeiro de 2003, jurava para seu primeiro mandato o líder popular Luiz Inácio Lula da Silva, representante do Partido Dos Trabalhadores. Desde então, tudo poderia mudar na trajetória de democracia do Brasil, inclusive, agora para as eleições municipais para escolha dos próximos mandantes nas eleições para prefeitos de 2020. Mas porque tamanha influência?
O processo de crescimento que vinha experimentando a gigantesca nação sul-americana desde as reformas aplicadas pelo Presidente Cardoso não só continuou com o novo governante, mas expandiu-se surpreendentemente, motivando elogios de observadores em diferentes lados do espectro político. Não poucos foram os que queriam se parecer com quem manteve níveis de aceitação acima de 80% até o último dia de seu segundo governo. Seus conselheiros foram os mais procurados por todos os tipos de campanhas que esperavam reproduzir o modelo de sucesso Lula. Daí que” gurus ” como João Santana fizeram parte de campanha vitória uma após a outra com uma estratégia impecável que escondia outros interesses depois divulgados.
O escândalo da Lava Jato, que tão duramente atingiu a elite política brasileira com um sofisticado esquema de subornos milionários, foi exportado para outros países e, em especial, com o componente da Construtora Norberto Odebrecht, acabou sendo o maior caso de corrupção que o continente conheceu. Oferecendo coimas a Presidentes, congressistas, prefeitos e Ministros, conseguiam a consignação de obra pública sobrevalorizada, chegando a ter segundo confissões de empresários o próprio Lula da Silva como principal lobista. Isto foi destinado a políticos de direita, de centro e de esquerda, mostrando que a corrupção é claramente ambidestra na hora de assaltar os fundos dos contribuintes.
Segundo foi revelado, estes foram os montantes de suborno em cada país onde se aplicou o mecanismo: México, 10 milhões de dólares; Colômbia, 11 milhões de dólares; Guatemala, 15 milhões de dólares; Peru, 29 milhões de dólares; Argentina, 35 milhões de dólares; Panamá, 59 milhões de dólares; República Dominicana, 92 milhões de dólares e Venezuela, 98 milhões de dólares. Isso, além dos 349 milhões de dólares distribuídos no próprio Brasil apenas pela Odebrecht.
O culto à personalidade é uma das manifestações mais palpáveis do populismo. Faz parte de uma agenda política cuja materialização e fortalecimento precisam minar a institucionalidade suplantando-a pela vontade do sujeito do culto. É por isso que os populistas sempre tendem ao endeusamento daquele cuja personalidade se cultiva e a promover a ideia de que se trata de um ser predestinado, que por ser, se está acima não só do resto dos meros mortais, mas também de todo o aparato institucional e legal que num Estado Democrático de Direito deve reger as atuações dos governantes e governados.
Os latino-americanos acostumaram-se a sofrer o uso dos recursos públicos para propaganda populista dos governos, com uma discricionalidade que escapa à mais fértil imaginação. Costumamos aceitar essas aberrações como algo natural e lógico da atividade política. Vamos a eleições de tempos a tempos para dar a um grupo político a oportunidade de gerir, sem responsabilização, o orçamento nacional. A compra de lealdade mediática perpétua a impunidade sobre essa prática e projeta a ilusão de paraísos claramente inexistentes, aos quais dificilmente têm acesso aqueles favorecidos com a graça e bênção daqueles que exercem o poder como se se tratasse de títulos nobiliários ou heranças de manufatura divina. Assim, os que se servem sem limites da abundância da festa têm por obrigação recordar àqueles que não foram convidados a ela, que vêm do reino dos céus.